Notícias de Botequim

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quarta-feira, 12 de março de 2008

Nascidos em Bordéis


Nascidos em Bordéis é um documentário Indiano/Estadunidense de 2004. Mostra o dia-dia de crianças Indianas que moram no Distrito da Luz Vermelha em Calcutá, na verdade um submundo, um lugar a parte. A documentarista que é fotógrafa também, dá aula de como manusear uma câmera e tirar boas fotos à oito crianças que vivem nos Bordéis.O filme é realmente uma obra-prima, e não é o primeiro do tipo, filmagens amadoras e independentes, usando personagens reais, mais especificamente, crianças como Promessas de um Novo Mundo que segue a mesma linha, citando o conflito entre Israelenses e Palestinos, lançado em 2001 vai pelo mesmo caminho. É Memorável! Diferente de Bordéis foi indicado, porém, não venceu o Oscar (bela róba hein)!Realmente o filme faz chorar e querer a autopunição/flagelamento imediato do corpo. Faz um desejar pulsante da abdicação deste sistema excluso que vivemos no Ocidente. Crianças com futuros certos e pré-destinados, crianças que sofrem humilhações todos os dias. De gerações de Prostitutas, frutos dessa mesma forma de trabalho, e quiçá, mantenedoras da mesma.Crianças adultas, já expulsas da tal sociedade decente e tradicional, antes mesmo de se darem conta disto!Que para serem aceitas em internatos(no caso, em escolas melhores) não podem ser Soro Positivas, mesmo, com antecessoras que se prostituem.Crianças que cedem o pequeno espaço utilizado do quarto conjunto do cortiço, para a mãe poder "trabalhar". Mãe esta sofrida, e nada atraente, nada de PUTAS de LUXO no Distrito da Luz Vermelha, nada de maquiagem, nada de corpo protuberante, e sim, dor, só dor. Só sustento e luta pela sobrevivência. Quando as crianças estão fotografando, a vida parece ser melhor, acredito que é pelo simples motivo de estarem preparadas para aquilo usarem suas cucas, e por gostarem, por verem futuro naquele fazer. As crianças em momento algum desfocam a retratação da miséria, buscando fuga em, por exemplo, fotografar o céu, ou a beleza clara e nítida. Não. Eles extraem beleza do sujo, do perverso, acham cores e ângulos que tentam amenizar a sofreguidão mostrando a realidade. O absurdo e desumano já é parte viva na realidade das crianças, não há relutância no (já) caminho traçado, porém, o verde claro de esperança de dias melhores vive como sonhos bem distantes, inalcançáveis e talvez até inatingíveis!A história de vida de todas as crianças impressiona, mas, acredito que a do garoto Avijit seja a mais perturbadora. Ele tira as melhores fotos, (analisando uma série de fatores ligados à fotografia) e, além disso, tem uma sensibilidade única na hora de apertar o botão!Mora com os avós, o pai é viciado em haxixe e virou um inválido, a mãe é prostituta e separou-se do pai quando Avijit ainda era pequeno(na verdade, mais novo do que já é, ele deve ter uns 12 anos no máximo), morando em outro discriminado e marginalizado bairro distante do Distrito da Luz Vermelha. Ela morre queimada em sua própria casa (quarto), assassinada por um cliente e não há investigação sobre o caso. Isso faz com que Avijit, (que será mandado a um Encontro de Fotógrafos Mirins com crianças do mundo todo em Amsterdã), não trabalhe mais fotografando, encontrando-se perdido pela morte da mãe durante um tempo, por fim ele se recupera e vai para Amsterdã, voltando à Calcutá para um internato americano. Esta é a chave de todo o filme a meu ver, um garoto Oriental, indo para o Ocidente num país totalmente desenvolvido na Europa, patinando no gelo, sendo feliz com todo o desenvolvimento e progresso capitalista, por momentos você (telespectadô) deseja que ele nunca mais retorne à sua terra natal. Pois, sim, ele volta. Sabe-se que ele voltaria, mas, desejamos um milagre no meio do documentário!
Deseja-se que ele possa ter acesso a uma vida normal, que lhe é de direito. E por este lado chega-se até a vangloriar e positivar o sistema capitalista. E este é realmente o ponto, ele vive no capitalismo, porém do lado pobre, o lado rico, é sempre muito bem garantido e beneficiado, e o Avijit é o reflexo da margem da sociedade, dos que são explorados, porém estão, estarão e estiveram à mercê do tão famoso e velho determinismo social em função do conforto, progresso e bem-estar de outros poucos!Mesmo com o crescimento econômico efetivo da Índia nos últimos tempos, a parte do bolo não tem chegado aos "marginais" do país, e acredito não chegar tão cedo. A Teoria do Bolo de Delfim Neto parece não funcionar na Índia também. O mais podre é vê-lo feliz num país que o acolhe bem, mas, que por outro lado, têm dirigentes governamentais do mundo todo, que o exploram de maneira bem mais direta, sentida na pele dele e de todos os outros como ele em questão.
Que talvez, se ele não fosse para uma "temporada cultural” e sim, como imigrante procurando refúgio de um país em guerra, por melhores condições de vida, em busca de emprego, não fosse tão bem recebido!
É bonito, bacana, descolado, bem visto mostrar a integração de pessoas de vários lugares do mundo superficialmente num ato sócio-cultural, o que não vira é acreditar em assistencialismo, porque o problema é de raiz. Quantos fotógrafos, médicos, escritores não perdemos todos os dias? Quantos deles os são por natureza e, não têm a possibilidade de saber? A integração vai muito além, precisamos globalizar as cabeças, a moeda, de uma maneira mais integrada e profunda. A infelicidade de Avijit, das outras crianças Indianas, Palestinas, Africanas, (e não menos importantes) os nossos subnutridos do Norte e Nordeste, os nossos meninos de rua do Sudeste, os NOSSOS cheiradores de cola do Viaduto do Chá e usuários de crack da Cracolândia são produtos NOSSOS, de TODOS nós, aqui e no resto do MUNDO!!! Ou da inércia de não participação, ou, pelo egoísmo de agir e apitar visando o bel-prazer de um grupo de pessoas!Indispensável na bagagem de filmes de una persona!

2 Comentários:

Blogger guilhermeeee disse...

Nossa, não assistí esse filme, mas fiquei afim de ver agora.
Você pega uns filmes moh undergrounds né dercy? aseuihasoeui aonde vc conhece esses filmes?

e meu, realmente, é foda. será que outro estágio da ''evolução'' do capitalismo/democracia burguesa/etc?

antes, agente pelo menos podia escolher o que fazer da vida; agora, como esses meninos, já nascem, como você disse, predestinados.

deus me livre viu :/
aseiuhasoieu

foda seu texto !
:*

14 de março de 2008 às 01:44  
Blogger palavrasaovento disse...

Lindo Naty!!!
Concordo contigo, são produtos nossos!!
Vc escreve mto bem!!!
Depois te passo o meu é que escondido a sete chaves...rs
Beijos

14 de março de 2008 às 14:00  

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